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Sede de Amor


Todos os dias me pergunto se um dia serei digna de ser amada. Quando eu digo amada, não digo como meus pais se amaram, em meio a infinitas discussões, nunca demonstrando carinho um ao outro e afogados pela comodidade de anos de casamento. Quando eu digo amada, quero dizer como nos filmes de romance. Um amor que gosta de me beijar na chuva, que cruzaria o oceano de vela por mim e decora o Cristo Redentor de pisca-pisca para me ver feliz. Meu corpo anseia por um amor que criaria um novo planeta com meu nome apenas para me ver rainha. Um amor revolucionário que ultrapasse as barreiras do tempo e espaço. Um amor cuja chama pode até se apagar, mas que poderia redescobrir o fogo se fosse preciso, tudo para acendê-la novamente.


Vi poucos amores assim na vida real. Um deles é dos meus padrinhos. Mesmo com praticamente meio século de casados, os dois se amam como adolescentes; se beijam sorrindo, fazem piadas sobre suas intimidades, se chamam por apelidos bregas e amam a companhia um do outro para tudo. E quando eu digo tudo, é tudo. Desde jantares românticos até descer para pegar uma encomenda. O mais lindo do amor deles é que não é dependente um do outro. Eles não precisam um do outro para viver, mas escolhem um ao outro todos os dias para sobreviver.

Com o passar dos anos, cada dia sinto que sou menos digna de um amor assim. 

Talvez seja difícil me amar. Talvez seja difícil me escolher. Talvez eu seja a pessoa que nunca encontrarei alguém. Talvez eu seja a amiga que casa todos os amigos, menos a si mesma. Talvez não seja tão ruim morrer sozinha. Talvez eu tenha sido designada a nunca formar uma família. Ou talvez meus amigos serão minha família ao fim da vida. Talvez eu encontre outro alguém; talvez não. Talvez. Talvez eu tenha vindo ao mundo com outro propósito; mas, enquanto eu não o encontro, me sinto indigna do que há mais lindo nesse universo: o amor.

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